3ª Fase – 1970 - 2000

Em 1975 é criada a Fundação Nacional de Arte (FUNARTE), que teve, e continua tendo, papel decisivo na divulgação da música brasileira de forma geral e da música dos séculos XVIII e XIX, em particular.

O primeiro grande projeto da FUNARTE em torno da chamada música colonial brasileira foi a coleção Música Sacra Mineira, iniciada ainda na década de 1970. Os caminhos dessa coleção são bastante tortuosos. Inicialmente, era constituída por cerca de 100[1] ou 200 (Neves, 1997:21) itens, muitos dos quais eram apenas movimentos de obras maiores. Uma reorganização mais coerente das obras estabeleceu o número de 77, sendo 76 delas obras sacras e religiosas de compositores mineiros dos séculos XVIII e XIX. Em 1997, a quantidade de obras reimpressas foi reduzida para 12. Havia a intenção, naquele momento, da disponibilização da séria completa das 77 obras em versão digitalizada (Neves, 1997:26). As mesmas 12 permaneceram na publicação de 2000 e, mais recentemente, como sexto volume da coleção Música no Brasil, publicada em 2002, conforme veremos adiante. Tiveram atuação destacada na primeira fase da coleção Música Sacra Mineira os pesquisadores Aluízio Viegas, Ademar Campos Filho, e Geraldo Barbosa de Sousa. A reorganização do material teve a coordenação do musicólogo José Maria Neves (1943-2002).

Uma nova fase da atuação da FUNARTE na área da música sacra brasileira antiga foi sua associação com a pesquisadora Cleofe Person de Mattos (1913-2002) que realizou importante trabalho de publicação de obras sacras de José Maurício, com nove itens:

Matinas do Natal, CPM 170 (1978) (CMSRB-079/004), Gradual Dies Sanctificatus, CPM 130 (1981) (CMSRB-054/001), Gradual de S. Sebastião, CPM 143 (1981) (CMSRB-096/001), Salmos Laudate Pueri, CPM 77 (CMSRB-104/004) e Laudate Dominum, CPM 76 (CMSRB-103/001) (1981), Missa Pastoril Para Noite de Natal, CPM 108 (1982) (CMSRB-097/018), Ofício 1816, CPM 186 (1982) (CMSRB-041/004), Tota Pulchra, CPM 1 (1983) (CMSRB-165/004), Missa de Santa Cecília, CPM 113 (1984) (CMSRB-097/028).

A musicóloga foi responsável ainda pelo volume Obras Corais A Cappella, sempre de José Maurício, publicado pela Associação de Canto Coral, em 1976.

Em 1993 a Carus Verlag da Alemanha lança uma nova edição da Missa de Requiem de José Maurício, também aos cuidados de Cleofe Person de Mattos (CMSRB-142/002). Essa publicação apresenta desdobramentos importantes, fornecendo as partes de orquestra e partitura para coro, com redução para piano. A edição restabelece o contato com os manuscritos autógrafos da obra, quebrando a tradição das reproduções a partir da edição de 1897 da mesma obra.

Na década de 1990, o musicólogo Régis Duprat desenvolveu importante trabalho editorial a partir dos manuscritos da chamada Coleção Francisco Curt Lange, depositada no Museu da Inconfidência de Ouro Preto, em Minas Gerais. A nova coleção, Música do Brasil Colonial, publicou quatro obras em seu primeiro volume, de 1994, e mais sete obras no segundo volume, de 1999. Régis Duprat coordenou ainda o volume Música Sacra Paulista, lançado em 1999, com trinta e uma obras de compositores de São Paulo dos séculos XVIII e XIX.

Complementando esta segunda fase, podemos citar algumas iniciativas isoladas: 4 Tractus do Sábado Santo de Lobo de Mesquita (MIG 9), publicados em 1979 pelo musicólogo Jaime Diniz (CMSRB-032/003). Também sob os cuidados de Jaime Diniz encontramos, em 1980, um Regina Caeli (CPM 11) de José Maurício (CMSRB-141/005), na verdade um programa de concerto do Coral Expressionista de Maceió. O maestro e compositor Ernani Aguiar publica no início da década de 1982 Dois Motetos para Quarta-Feira de Cinzas (CPM 61 e 62) (CMSRB-082/001 e CMSRB-088/001), de José Maurício.

Mais algumas obras de José Maurício, Popule Meus (CPM 222) (CMSRB-131/003), Sepulto Domino (CPM 223) (CMSRB-149/003), Immutemur Habitu (CPM 61) (CMSRB-082/004) e Inter Vestibulum (CPM 62) (CMSRB-088/002) foram publicadas em 1998 pela Colla Voce Music, EUA, aos cuidado do maestro David Junker, de Brasília.

80 anos depois encontramos ainda ecos da publicação da Missa de Requiem, de José Maurício. A Requiem Mass foi lançada em 1977 pela Associated Music Publishers, Inc., dos EUA (CMSRB-142/009). A obra, editada por Dominique-René de Lerma, é reduzida às vozes com acompanhamento de piano. A editora declara, na breve Introdução, que se trata de “uma ampliação e, às vezes, de uma recomposição” (Lerma, 1977:s.pg.) da edição de 1897.

Nesta terceira fase entra em cena o estado brasileiro, através da FUNARTE, na preservação e divulgação do repertório brasileiro do passado. Destaque-se, ainda, atuação de musicólogos na edição e publicação desse repertório, tais como Cleofe Person de Mattos, Jaime Diniz e Régis Duprat. Surgem, ainda, novas publicações no exterior, quase sempre associadas com pesquisadores brasileiros.

[1] Informação pessoal prestada por Aluízio Viegas.

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